Uma das minhas muitas características - e a nomeio assim porque ainda não sei dizer se é defeito ou qualidade - é que eu nunca falo sobre o quanto estou magoada a quem me magoou. Sempre foi assim e não sei se sempre será, mas o fato é que não consigo explanar sobre as minhas dores de forma clara e objetiva a fim de resolver tudo.
Eu digo a mim mesma que uma das motivações para isso é que esse tipo de emoção bloqueia a razão, e qualquer ação que eu tome com raiva ou mágoa vai ser motivo de arrependimento e remorso futuro. Por isso, apenas me calo, e fim. De alguma forma está tudo resolvido.
Eventualmente perdoo, pelo menos na maioria das vezes. Desde que eu não descubra um gatilho que desencadeie a enxurrada dessas emoções como uma represa de comportas largamente abertas.
Mas algo tem me levado a pensar… existe uma linha tênue entre falar sobre as mágoas e deixar para lá. De um lado, tudo é colocado em pratos limpos de uma só vez, mesmo que com um tantinho de revolta do calor do momento. Isso pode resolver tudo ou causar novas mágoas a novas pessoas.
De outro, tudo é guardado numa caixa do coração para que se possa ter o que remoer com o tempo. Isso pode resolver tudo ou causar novas mágoas, notando detalhes que, no calor do momento, não foram notados.
A conclusão inconclusiva é que precisamos aprender a lidar não só com as nossas próprias mágoas sofridas, mas refletir também sobre as mágoas que causamos nos outros.
Acredito piamente que, se cada um de nós puder refletir assim, com a mente aberta, poderá descobrir a cura definitiva para um mal milenar: a falta de perdão.
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